Para contextualizar quem só agora está a contactar com a sua existência, o Movimento Cívico pela Linha do Vouga foi criado no ano de 2011, numa altura em que o Governo liderado por Pedro Passos Coelho previa o encerramento definitivo desta linha centenária. Há data em que este movimento nascera, praticamente todas as linhas de bitola métrica já tinham desaparecido em Portugal, restando apenas a Linha do Vouga e a Linha do Tua. Só com um enorme esforço por parte dos autarcas de então, juntamente com iniciativas populares como a nossa, foi possível reverter essa intenção. Este movimento luta, portanto, pela manutenção da Linha do Vouga e pela manutenção da via métrica no nosso país. Apesar da linha ter sobrevivido, continuou a definhar nos anos seguintes, tendo, inclusive, perdido o serviço comercial por meio do comboio no seu troço central, no ano de 2013, devido ao péssimo estado da via. A linha continuou sem grandes obras de beneficiação, até que em 2015, curiosamente ainda sob as cores do governo social democrata, foi executada uma Renovação Integral de Via (RIV) entre Águeda e Sernada do Vouga. Foi precisamente nesse ano que sugerimos uma solução para a exploração turística da linha, que veio a concretizar-se com a estreia do Comboio Histórico, em 2017, numa altura em que o país era já governado pelas cores socialistas. Apesar do sucesso desta iniciativa, que decorre apenas entre Aveiro e Macinhata do Vouga (Águeda), a restante infraestrutura continuou sem grandes melhorias. Em 2018, a Linha do Tua viu o seu serviço ferroviário suspenso e, como tal, o "Vouguinha" passou a ser o único comboio de bitola métrica a manter-se ativo em Portugal. Chegados a 2019, o PNI2030 propunha, então, a modernização da Linha do Vouga, apenas entre Oliveira de Azeméis e Espinho, com alteração para bitola ibérica, num orçamento previsto de 75 milhões de euros. Toda a restante linha seria para encerrar!
Foi precisamente nesta altura, que o Movimento Cívico pela Linha do Vouga se insurgira uma vez mais para mostrar ao governo que seria uma decisão completamente errada e contra os princípios e necessidades de mobilidade, dado o desprezo pelas restantes cidades servidas pela linha, assim como pela própria bitola métrica. Felizmente, em 2020, o governo talvez apercebendo-se do erro que estaria a cometer, decidiu reescrever o PNI2030 e optou pela modernização da Linha do Vouga em toda a sua extensão, entre Aveiro e Espinho, mantendo a bitola métrica, num orçamento que aqui já referimos de 100 milhões de euros. Em 2021, a Infraestruturas de Portugal (IP) apresentou um pacote de 34 milhões de euros para a renovação integral de via em toda a extensão da linha, que segundo o ministro das infraestruturas e habitação, Pedro Nuno Santos, nada tem que ver com o orçamento para modernização previsto pelo PNI2030. No início de 2022, começaram as tão aguardadas obras de renovação integral de via entre Oliveira de Azeméis e Santa Maria da Feira e é expectável que iguais trabalhos sejam aplicados no troço central, já no início de 2023. Tal como o PNI2030, o recém-apresentado Plano Ferroviário Nacional, que está em discussão pública, prevê manter a linha em bitola métrica e coloca-a no lote das que apresentam elevado interesse de exploração turística, a par com as linhas do Douro e Corgo. Foi com evidente orgulho e satisfação que vimos a linha que tanto defendemos ser conotada como uma das mais bonitas do país. No entanto, nos últimos meses, temos vindo a assistir a uma lamentável campanha contra tais intenções, quer por parte de algumas entidades políticas, quer por parte de um meio de comunicação em particular.
Como já mostramos na nossa página, em publicações anteriores, o ex-autarca sanjoanense Castro Almeida foi dos primeiros a vir a praça pública para se mostrar contra o PNF e vender a ideia do "Comboio direto até ao Porto", que prontamente fora corroborada, tal como referimos no início, por Eduardo Costa, diretor do jornal "Correio de Azeméis". Ora, para nosso espanto, o meio de comunicação social anteriormente referido, que deveria mostrar alguma imparcialidade no assunto, optou por promover uma campanha contra as intenções do PNF, patrocinando publicações de opinião nas suas redes sociais e promovendo um debate com todos os partidos com assento na assembleia municipal de Oliveira de Azeméis, cujo moderador, mostrando pouca isenção jornalística, era o próprio diretor desse mesmo meio de comunicação social. Como se isso não bastasse, decidiram iniciar e divulgar, tal como referimos no início do nosso comunicado, uma petição pública com o intuito de reverter os objetivos de modernização da Linha do Vouga, previstos pelo Plano Ferroviário Nacional.
Nessa mesma petição, que apela ao "comboio direto até ao Porto" e à mudança para a bitola ibérica, não é esclarecido aos demais cidadãos de que essa mesma alteração de bitola, para ser alcançável, implicaria imensas expropriações ao longo do leito de via, colocando em causa a existência de imensas habitações e empresas, para não falar em todos os custos que isso acarretaria. De igual modo, não é esclarecido que alterar a bitola, implicaria que a modernização decorresse apenas entre Oliveira de Azeméis e Espinho, cujo custo seria 120% superior ao de manter a bitola atual. Resumidamente, algumas localidades de Oliveira de Azeméis como Ul, Macinhata da Seixa, Travanca e Pinheiro da Bemposta ficariam sem comboio, assim como Branca, Albergaria-a-Nova e a própria sede de concelho, em Albergaria-a-Velha. O jornal "Correio de Azeméis", que deveria mostrar imparcialidade jornalística, encontra-se a promover uma ligação direta ao Porto, em detrimento da possibilidade dos concelhos de Albergaria-a-Velha, Oliveira de Azeméis, São João da Madeira e Santa Maria da Feira terem, de igual modo, uma ligação a Águeda e a Aveiro. Por fim, também não esclarece que a alteração da bitola implicaria aniquilar o interesse da exploração turística da linha. Conclusão: do ponto de vista do MCLV, a petição apela a uma solução pior para a Linha do Vouga, pois é bastante onerosa, quer do ponto de vista técnico, quer do ponto de vista financeiro e coloca todas as boas intenções do PNF em causa, por um simples transbordo em Espinho, onde, inclusive, já está a ser elaborado um projeto para a reposição da interface com a Linha do Norte junto à estação principal.
Por tudo aquilo que enumeramos anteriormente e por todas as atitudes de um meio de comunicação social que, para além de não se ter dignado em publicar o nosso direito de resposta, tem vindo a mostrar pouca imparcialidade jornalística ao tomar partido numa determinada ideologia política, o MCLV vem por este meio informar que, a partir de hoje e até tempo indeterminado, cortará todo e qualquer tipo de relação institucional com o jornal "Correio de Azeméis".
MCLV, 26 de dezembro de 2022.
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