Transcrevendo o noticiário, "os vereadores do PSD, aproveitaram a reunião do executivo camarário para apresentar uma moção intitulada 'Requalificação Linha do Vouga, Um investimento para 100 anos'. A moção apresentada prevê uma 'recomendação ao Governo da reconversão da linha sem necessidade de mudança de comboio em Espinho'. A moção foi aprovada com os votos favoráveis dos vereadores do PSD. Os restantes membros do executivo abstiveram-se na votação".
Ora, perante tal moção, decidiu o MCLV, por bem, analisar o que realmente estão aqui estes senhores "vereadores do PSD", com a conivência dos restantes e do próprio presidente da autarquia (PS), a recomendar ao Governo. E aquilo que estão a recomendar é algo muito simples: deixar dois terços do seu território concelhio sem comboio! Não acredita?! Então façamos as contas... A Linha do Vouga atravessa todo o concelho de Oliveira de Azeméis, servindo a sua população entre os apeadeiros de Faria (junto à fronteira concelhia de São João da Madeira), situado ao quilómetro 27.35, e a estação de Pinheiro da Bemposta (perto da fronteira concelhia de Albergaria-a-Velha), situado ao quilómetro 43.64. Quer isto dizer que distam entre si cerca de 16.3 quilómetros. Uma vez que a estação de Oliveira de Azeméis situa-se ao quilómetro 32.75, significa que esta dista 5.4 quilómetros do apeadeiro de Faria e 10.9 quilómetros da estação de Pinheiro da Bemposta. Portanto, assim se conclui que a proposta apresentada pelo PSD de Oliveira de Azeméis despreza a continuidade do serviço ferroviário em dois terços do seu território concelhio. E despreza porquê? Porque estamos perfeitamente convictos de que, caso a modernização da linha avance entre Oliveira de Azeméis e Espinho com alteração para bitola ibérica, baseado apenas na premissa de "ligação direta ao Porto", será o motivo para o encerramento definitivo da restante linha para sul, ou seja, do seu troço central que a leva até Sernada do Vouga, deixando assim Ul, Macinhata da Seixa, Travanca e Pinheiro da Bemposta sem comboio e Oliveira de Azeméis, São João da Madeira e Santa Maria da Feira perdem uma ligação ferroviária a Albergaria-a-Velha, Águeda e Aveiro.
O noticiário pediu ainda a todos os presidentes de junta de freguesia do concelho de Oliveira de Azeméis para darem a sua opinião relativamente aos trâmites da modernização da Linha do Vouga. Vamos aqui destacar apenas as afirmações dos presidentes de junta que são efetivamente servidos pela via férrea. Começando pelo presidente da junta de freguesia de Cucujães, Simão Godinho, de forma sensata e cautelosa afirmou não possuir conhecimentos técnicos para ter uma opinião formada sobre o assunto, exigindo apenas uma linha rápida e com boas condições. Já a sua congénere da união de freguesias de Pinheiro da Bemposta, Travanca e Palmaz, Susana Mortágua, afirma que o mais importante é que as suas freguesias fiquem ligadas a uma ferrovia modernizada, rápida e eficiente, independentemente da bitola, deixando essa componente para os técnicos estudarem e avaliarem.
Por fim, Manuel Alberto Pereira, presidente de junta da união de freguesias de Oliveira de Azeméis, Ul, Santiago de Riba-Ul, Madaíl e Macinhata da Seixa, salienta que o planeamento da mobilidade ferroviária exige um conhecimento do qual não possui, dando apenas a sua opinião com exigências para o futuro, independentemente da bitola. Para as suas freguesias pede simplesmente uma linha com comboios modernos e padrões de segurança mais elevados, assim como um reajuste da quantidade e localização de alguns apeadeiros, no sentido de cativar mais utentes para a utilização do comboio nas deslocações para o Porto e Aveiro. Manuel Alberto Pereira termina a exigir uma maior oferta de horários, considerando que só com uma maior frequência se poderá satisfazer as necessidades das suas populações.
Tal como divulgamos numa publicação anterior, surpreendentemente, o presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, Joaquim Jorge, foi o único autarca da Associação de Municípios de Terras de Santa Maria (AMTSM) a mostrar a sua discordância quanto à manutenção da Linha do Vouga em bitola métrica. No entanto, o edil oliveirense optou por abster-se na votação da moção e afirmou mesmo não possuir competências para defender uma solução. Ao noticiário, Joaquim Jorge afirmou ainda que "a ligação direta ao Porto só é possível com a alteração da bitola". Ora, o MCLV aproveita, assim, para esclarecer o autarca de Oliveira de Azeméis que tal afirmação está completamente errada, pois, hoje em dia, sabemos bem que a necessidade de alterar a bitola para se ter uma ligação direta ao Porto ou a Coimbra já não implica a alteração da bitola, pois temos o exemplo suiço do GoldenPass Express, produzido pela Stadler, que por se tratar de um comboio bi-bitola, pode circular entre linhas com diferentes bitolas.
É ainda com enorme preocupação que, no meio de toda esta polémica, o MCLV constata que a discussão se tem centrado apenas e exclusivamente no tema da alteração de bitola para uma "ligação direta ao Porto", ignorando-se o facto de que existe uma requalificação do troço central da Linha do Vouga que se encontra atrasada. Requalificação essa que já deveria ter arrancado no terceiro trimestre do ano transacto. Até ao momento não vimos nenhuma entidade política a questionar a IP ou o Governo relativamente a este assunto, estando o debate centrado numa questão que, do nosso ponto de vista, só irá atrasar o processo de modernização da Linha do Vouga. Sim. Da Linha do Vouga e não do "Ramal de Azeméis", no qual muitos a querem transformar. Lamentável.
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