O Movimento Cívico pela Linha do Vouga (MCLV) assistiu ontem à conferência promovida pela Associação de Municípios de Terras de Santa Maria (AMTSM) intitulada "A Linha do Vouga - Que futuro?" e foi com grande satisfação que constatamos uma clara vitória da solução de modernização da Linha do Vouga mantendo a atual bitola. A opinião dos três especialistas presentes foi unânime na defesa da continuidade da via estreita em Portugal, sendo que o único elemento que iria defender a bitola ibérica acabou por não comparecer. O debate que fora introduzido e conduzido pelo próprio presidente da autarquia feirense, Emídio Sousa, contou com a presença dos presidentes de câmara inseridos na AMTSM, assim como a de Jorge Almeida, presidente da Câmara Municipal de Águeda. O certame encerrou com as palavras do atual presidente da associação promotora do debate, o presidente da Câmara Municipal de Vale de Cambra, José Pinheiro.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
Resumo da conferência: Solução métrica venceu a ilusão ibérica!
O debate teve início com as palavras de Pedro Meda, do Instituto da Construção, que apresentou o "Estudo de Requalificação Urbana da Linha do Vouga", realizado entre 2017 e 2019, cujo veredicto final concluiu que se deveria optar pela modernização mantendo a bitola atual e, de resto, acabou por ser o suporte para a retificação do PNI2030, apresentado pelo Governo em 2020. Retificação essa justificada por Pedro Meda pela impossibilidade da criação de um entroncamento da linha do Vouga, em bitola ibérica, com a linha do Norte, em Silvalde, dado que essa área encontra-se protegida devido ao campo de golfe ali presente e, portanto, seria uma solução chumbada pelo impacte ambiental.
De seguida, teve a palavra o Eng. Nuno Freitas, ex-presidente da CP e especialista em transportes e vias de comunicação. Oriundo de São João da Madeira e, por isso, bom conhecedor da linha do Vouga, foi com naturalidade que acabou também por defender a modernização desta via férrea com a continuidade da bitola atual. Nuno Freitas considera que a linha do Vouga pode ser uma linha de "classe mundial" em bitola métrica, à semelhança do que acontece nas linhas métricas da Suíça, defendendo, até, que poderá ser melhor do que muitas em bitola ibérica. Para sustentar esta tese, utilizou como argumento a modernização falhada da linha de Guimarães, cujo investimento não se traduziu em grandes ganhos nos tempos de viagem. Considerou ainda ser praticamente impossível aplicar a bitola ibérica no canal ferroviário existente e alertou que cada quilómetro da linha do Vouga convertido para esta bitola poderá custar 10 milhões de euros, ou seja, seriam necessários mais de 300 milhões de euros para modernizar a linha apenas entre Oliveira de Azeméis e Espinho! O especialista sugeriu, ainda, que o Plano Ferroviário Nacional deveria ser retificado para contemplar a criação de "gares intermodais" da linha do Vouga com a nova linha de alta velocidade nos pontos em que estas se cruzarem, estando esses cruzamentos previstos no lado norte, na zona de Rio Meão e no lado sul, na zona de Águeda.
Para finalizar as intervenções por parte dos especialistas, ouvimos as palavras de Paulo Melo, Diretor do Departamento de tráfego e mobilidade das Infraestruturas de Portugal, que nos deu a conhecer que está prevista a eletrificação da linha do Vouga numa tensão de 750V em corrente contínua, que, tal como Nuno Freitas, considera ser a mais "amiga" nos traçados de características urbanas. A eletrificação nesta tensão terá um custo previsto de 77 milhões de euros. Paulo Melo alertou para o facto da alteração de bitola implicar raios de curvatura mínimos de 250 metros, pelo que 70% do trajeto teria de passar em novos locais, o que implicaria imensas expropriações, defendendo, também, a continuidade da linha na bitola atual. Informou, ainda, que para o prolongamento da linha à superfície, em Espinho, até à sua estação principal, já foram realizados estudos estruturais para perceber se o túnel ali existente poderia suportar a via férrea e o parecer é favorável. Relativamente aos custos da modernização mantendo a bitola métrica, devido à inflação, os valores foram atualizados e o custo total passou de 100 para 120 milhões de euros.
No final do debate, houve espaço para uma pequena sessão de perguntas e respostas que acabou por prolongar a discussão. Castro Almeida decidiu tomar grande parte do tempo com um longo discurso, justificando-se pela ausência de Alberto Aroso, que ao que parece iria mostrar uma perspectiva diferente da dos restantes especialistas. Com um discurso idêntico ao apresentado nas suas sucessivas crónicas publicadas no jornal "O Regional", o ex-autarca sanjoanense vinha claramente com questões preparadas, que deixaram de fazer sentido após as explicações dos especialistas, mas ainda assim optou por fazê-las... Limitando-se a insistir no argumento de "ligação direta ao Porto", sem nenhum parecer técnico que o sustente, Castro Almeida, admitindo que a alteração da bitola tratar-se-á de uma obra megalómana, afirmou que as populações da AMP são merecedoras dessa obra e que "quando há vontade política, o que não falta em Portugal é dinheiro".
Joaquim Jorge deixou "cair a máscara"!
Quem também parece não ter gostado daquilo que ouviu, ou pelo menos não terá entendido boa parte das explicações dadas pelos especialistas, foi o presidente da autarquia de Oliveira de Azeméis. Joaquim Jorge, após a conferência e em declarações a um noticiário regional oliveirense, surpreendeu pela negativa ao mostrar um discurso confuso e contraditório ao que foi debatido, deixando "cair a máscara" relativamente à sua posição quanto à modernização da linha. O MCLV sempre esteve convicto da posição do autarca oliveirense a favor da bitola ibérica, mas agora a confirmação é oficial. Relembramos que recentemente a assembleia municipal de Oliveira de Azeméis votou a favor de uma moção proposta pelo PSD, fundamentada na alteração da bitola para uma ligação direta ao Porto. Apesar de ter sido o único autarca da AMTSM a mostrar-se contra a solução da bitola métrica, Joaquim Jorge absteve-se da moção e até admitiu reconsiderar a sua posição consoante os resultados deste debate. Ora, os especialistas indicaram a manutenção da bitola métrica como a solução mais razoável a seguir, mas Joaquim Jorge não lhes fez caso ao admitir defender a modernização da linha do Vouga com a mudança para bitola ibérica. E esta, ein?!
Veja a conferência na íntegra:
Veja as declarações de Joaquim Jorge:
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