O Movimento Cívico pela Linha do Vouga esteve ontem presente no debate promovido pelo jornal sanjoanense "O Regional", ao qual agradecemos ter tido a iniciativa de debater uma questão tão importante para a nossa região. Dos factos a reter das apresentações dos especialistas Pedro Meda, do Instituto da Construção, e Alberto Aroso, especialista em transportes e vias de comunicação, destacamos primeiramente a constatação de que o tempo actual de viagem entre Oliveira de Azeméis e Vila Nova de Gaia ronda 1 hora e 35 minutos. Mantendo a bitola métrica e efectuando a correção de traçado, esse tempo passará para 1 hora e 15 minutos, enquanto que alterando o traçado para bitola ibérica ficaria em apenas 1 hora. A diferença de 15 minutos entre ambas está relacionada com o suposto tempo de transbordo, sendo que contabilizando paragens apenas nas sedes de concelho, o tempo de viagem poderia ser de 30 minutos. Foi ainda dito que a solução da bitola ibérica custa mais 72 milhões do que a bitola métrica, ou seja, caso a linha seja convertida para bitola ibérica iremos pagar mais 72 milhões em troca de apenas menos 15 minutos de viagem. Significa, portanto, que serão necessários 112 milhões de euros para renovar a linha em bitola ibérica, apenas entre Oliveira de Azeméis e Espinho. Os 120 milhões da proposta do Governo prevêm requalificar a linha inteira, de Espinho a Aveiro. Embora tenhamos sérias dúvidas da veracidade, foi dito que estes 120 milhões serão usados na sua maior parte entre Aveiro e Sernada do Vouga. Estes valores não contemplam o valor a pagar pelas expropriações, sendo que a bitola estreita contempla, nos planos dos especialistas, 20% de correção do traçado, ao passo que a bitola ibérica implica corrigir 60% do traçado. O problema é que ficamos a saber que, supostamente, o Plano Ferroviário Nacional não contempla a correção de traçado na Linha do Vouga, apenas a sua electrificação. A ser verdade, consideramos não ser aceitável, pois não teremos alterações nos tempos de viagem que tornem a linha competitiva. Deste modo, pedimos urgentemente ao Governo para que altere o PFN nesse sentido. Neste debate, ficamos também a saber que desde 2020 que há um contrato de serviço público para a Linha do Vouga, entre a CP e o Governo, que prevê verbas para alugar de material circulante. Essa verba pode e deve ser usada, pelo que pedimos a sua execução imediata. Há que considerar que a Linha do Vouga tem mais passageiros do que a Linha da Beira Alta ou a Linha da Beira Baixa, no entanto, ambas as linhas já receberam mais financiamento do que a Linha do Vouga. Não somos contra os investimentos nessas duas linhas, mas exigimos o mesmo tratamento, pois não merecemos ser discriminados relativamente ao resto do país. Foi, ainda, dito que uma possível interface em Rio Meão com a linha de alta velocidade custaria 40 milhões e que há o risco da ligação à linha do Norte, em Silvalde, ser chumbada pelo estudo de impacto ambiental, sem que no entanto tenha sido referida uma alternativa. Perante estes factos, Mário Pereira, que esteve presente na sessão com Vítor Gomes em representação do MCLV, questionou os especialistas e aproveitou para clarificar que a questão do turismo é secundária, sendo que o principal foco do MCLV é a defesa do serviço regular de passageiros.
Mário Pereira relembrou que "andamos há praticamente 11 anos a pedir a integração no Andante e na CP Porto, o que pode ser feito amanhã, pois é uma questão administrativa" e usou o seu próprio exemplo, pois trabalha numa fábrica a 500 metros da linha, mas não tem apeadeiro, nem horários convenientes, que sirvam quem trabalha por turnos, por exemplo. "Os horários também podem ser alterados amanhã", afirmou. Questionou, ainda, onde seria o ponto de entroncamento com a linha do Norte caso fosse chumbada a ligação em Silvalde, assim como o porquê de não ter sido contemplado o estudo/hipótese de utilização de comboios bi-bitola, que permitiriam a ligação directa ao Porto, sem ser necessária a mudança de bitola. Utilizou também o exemplo da linha de Guimarães, na qual a bitola foi alterada, mas não houve ganhos de velocidade. Relativamente à questão dos comboios bi-bitola, em reposta foi-nos dito que seriam caros, pois teriam de ser feitos de origem para a bitola ibérica. Ainda assim, perguntamos nós: não ficariam mais baratos do que o acréscimo de 72 milhões que a alteração da bitola implicará?
Por último, Mário Pereira questionou a obsessão pela ligação direta ao Porto e o porquê de não se falar na ligação a Aveiro, onde temos a universidade e a segurança social, assim como a ligação a Albergaria-a-Velha e a Águeda. Castro Almeida e Emídio Sousa, que presenciaram igualmente o debate, responderam que também consideram importante a ligação a Aveiro, embora a prioridade seja o Porto. Castro Almeida justificou o facto de não ter intervido mais na questão da Linha do Vouga quando foi autarca com o facto de não estar prevista a Linha de Alta Velocidade, não sendo possível, nessa época, a ligação direta ao Porto por falta de capacidade na Linha do Norte para comboios vindos da Linha do Vouga. José Nuno Vieira, vice-presidente de São João da Madeira, criticou a falta de contraditório, visto que Pedro Meda foi neutro e apenas apresentou as duas soluções. Alberto Aroso defendeu a bitola ibérica, pelo que José Vieira considerou também que faltou alguém no painel para defender a bitola métrica, para que houvesse um debate mais enriquecedor entre os próprios especialistas. O líder do Partido Socialista sanjoanense, Leonardo Silva Martins, foi o único a defender publicamente a bitola métrica, ao qual agradecemos. Deu o exemplo da linha da Lousã, que conhece por ter sido estudante em Coimbra, para ilustrar que depois do arranque dos carris, o comboio nunca mais voltou. Também referiu o falhanço da conversão da linha de Guimarães e pediu mudanças no sistema de bilhética.
Destacamos, por último, a intervenção do autarca de Santa Maria da Feira, Emídio Sousa, que pediu união dos autarcas e que não se politizasse a questão. Sobre os especialistas, destacamos a isenção e rigor do eng. Pedro Meda, que apresentou as duas soluções possíveis. Já o Eng. Alberto Aroso esteve longe de dar um contributo técnico, pois consideramos que se limitou a assumir o papel de representante do seu partido, o PSD. Aliás, em toda a sua intervenção, fala do comboio direto ao Porto e chega a sugerir a ligação ao aeroporto, mas no slide da sua apresentação apenas calculou os tempos de viagem até Vila Nova de Gaia. Com tudo isto, consideramos que Alberto Aroso criou uma verdadeira ilusão, que apenas gera ruído para defender a ideia do seu partido. Como sabe que a viagem estará perto dos 70 minutos e que por isso não é competitiva com o automóvel, faz uma analise apenas até Vila Nova de Gaia. Além do mais, é falso que a diferença da obra de via estreita para via larga seja de 450 para 600 euros por metro linear. Falso é também o argumento de que o transbordo demorará mais do que 15 minutos, assim como dizer que não há solução para a troca de bitola em caso de aposta em comboios bi-bitola. Também não é verdade que o comboio em via larga será mais rápido do que em via estreita. Questionamos o porquê da razão de Alberto Aroso não colocar a hipótese de uma estação intermodal com linha de alta velocidade e o porquê de não ter apresentado uma proposta para alteração da via larga em sede de propostas do PFN como fez para a linha de Trás os Montes. As afirmações feitas pelo especialista sobre a eventualidade de ser criada uma estação intermodal no local onde a linha do Vouga cruzará com a nova linha de alta velocidade estão sem rigor técnico e só tiveram um único objetivo: enganar os presentes. Não há a necessidade de se fazerem obras 5 quilómetros antes e 5 quilómetros depois, assim como os custos da estação só serão elevados se se optar por um mega monumento. Além disso, consideramos aceitável enquandrar o preço nos serviços de média distância, pois em Espanha é de apenas 8 euros.
Pode assistir ao debate completo aqui:
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