quinta-feira, 30 de março de 2023

Nota de repúdio a notícia do jornal Público


Como é do conhecimento público, existe uma polémica em torno de um suposto abate indiscriminado de sobreiros que se encontram junto à Linha do Vouga. Ora, apesar do sobreiro tratar-se de uma espécie protegida ao abrigo da lei portuguesa, o seu abate foi devidamente autorizado pelo ICNF, cujo propósito foi o de "garantir a segurança da circulação ferroviária e dos trabalhos que se encontram a decorrer com vista à requalificação da Linha do Vouga". Até hoje, o Movimento Cívico pela Linha do Vouga ficou de fora desta discussão, uma vez que, apesar de ser algo que também nos preocupa, o tema das florestas e da conservação da natureza é algo que está fora das nossas competências e do próprio propósito da existência deste movimento cívico. No entanto, foi com bastante apreensão que constatamos a publicação, no dia de hoje, de uma notícia por parte do jornal Público, com a assinatura de Carlos Dias, que dá conta de que "mais de 300 sobreiros serão abatidos para reativar 16 quilómetros da Linha do Vouga". A frase anteriormente transcrita trata-se do próprio título da notícia, o qual é erróneo e desse modo merece a nossa nota de repúdio, pois o sensacionalismo que lhe está imputado, consideramos ser enganador e manipulador da opinião pública em torno de um assunto tão sensível. O troço em causa, tratar-se-á daquele que liga Sernada do Vouga a Águeda, o qual sempre esteve em funcionamento e, inclusive, sofreu uma requalificação integral de via no ano de 2015. 




Se a escolha do título foi infeliz, a falta de preocupação jornalística pelo apurar da veracidade dos factos ficou ainda mais patente, uma vez que a notícia também dá conta de que "de acordo com o Núcleo Regional da Quercus em Aveiro, o corte das árvores terá sido ordenado porque o ramal ferroviário, o último reduto da linha de bitola estreita em Portugal, onde há décadas circulava o "Vouguinha", vai ser reactivado entre Sernada do Vouga e Espinho para receber uma composição a carvão." Ora, como é do conhecimento geral, até hoje, o único troço da Linha do Vouga que se encontra encerrado, já desde 1990, é aquele que liga Sernada do Vouga a Viseu e, daquilo que sabemos até ao momento, não se perspectiva a sua reabertura, estando atualmente convertido em ciclovia. Quanto ao troço que liga Sernada do Vouga a Oliveira de Azeméis, numa extensão de 29 quilómetros, apesar de por lá continuarem a circular comboios, o serviço de exploração comercial encontra-se suspenso desde 2014 devido ao mau estado da infraestrutura, mas o início dos trabalhos para a sua requalificação poderá acontecer já no próximo mês. Mais uma vez, aproveitamos para esclarecer que o propósito desta requalificação não é o de levar a "locomotiva a carvão" até Espinho, mas sim o de repor as condições que permitam a reabertura da exploração do serviço comercial de passageiros no troço central. Lamentamos, assim, que o jornal Público, que até temos em boa conta, tenha-se permitindo em publicar um artigo com tão pouco rigor e que, em termos de opinião pública, poderá ter consequências nefastas para a célere modernização de uma via férrea centenária, que definha há décadas, mas que ainda assim continua a prestar um serviço de transporte público fundamental para as populações que atravessa.


Ligação da notícia:

https://www.publico.pt/2023/03/30/azul/noticia/300-sobreiros-serao-abatidos-reactivar-16-quilometros-linha-vouga-2044159

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