Estação de São João da Madeira. Foto: Mário Pereira |
O dia 1 de Abril já lá vai, mas ainda assim, e mesmo depois de ter terminado o período de discussão pública do Plano Ferroviário Nacional, há quem continue a socorrer-se em publicações de artigos de opinião na imprensa regional para continuar a alimentar verdadeiras ilusões quanto ao futuro da Linha do Vouga. No meio da discussão para se encontrar a melhor solução de modernização desta linha, o Movimento Cívico pela Linha do Vouga tem vindo a apresentar uma posição vincada e consolidada por argumentos realistas, honestos e, sobretudo, válidos, quer do ponto de vista técnico, quer do ponto de vista financeiro, ao passo que outras entidades, com uma visão oposta, teimam em recorrer sistemáticamente a argumentos irrealistas, ilusórios e, por isso, pouco credíveis, estando assentes em suportes técnicos duvidosos, ou mesmo inexistentes! O mais recente argumento apresentado por quem tem vindo a promover autênticas ilusões, refere a possibilidade de termos o Vouguinha no Porto, partindo de São João da Madeira, em apenas 40 minutos, com um custo mensal de 40 euros. Embora seja verdade que, independentemente da solução escolhida, será possível fazer essa viagem com esse custo mensal, o mesmo já não podemos dizer do tempo de viagem, pois, a menos que seja construída uma linha de raiz cujo trajeto não implique o atual "desvio" em direção a Espinho, será praticamente impossível chegar ao Porto em apenas 40 minutos no atual canal ferroviário, mesmo com a alteração para bitola ibérica. Para o comprovar, decidimos fazer algumas contas:
● O tempo atual da viagem entre São João da Madeira e Espinho-Vouga é de 47 minutos. Vamos estimar (de forma ambiciosa) que, caso fosse possível a conversão da bitola, este tempo de viagem seria reduzido para 30 minutos. Atualmente, o comboio urbano mais rápido que parte de Espinho em direção ao Porto, demora cerca de 20 minutos a chegar à estação das Devesas, em Vila Nova de Gaia, onde futuramente passará a nova linha Rubi do Metro do Porto. Isto é o mesmo que dizer que, para se chegar ao Metro do Porto (mas não ao Porto), um comboio direto partindo de São João da Madeira demorará sempre no mínimo 50 minutos! Se estendermos a viagem efetivamente a centro do Porto, então os tempos de viagem serão superiores, pois para se chegar a Porto-Campanhã será preciso 1 hora e 5 minutos e a Porto-São Bento 1 hora e 15 minutos;
● As contas anteriores, que comprovam a impossibilidade dos tais 40 minutos, foram feitas com base numa modernização com alteração de bitola, pressupondo um comboio direto ao Porto. Façamos as mesmas contas, mas seguindo aquilo que o MCLV propõe, ou seja, uma modernização sem alteração de bitola. Ora, vamos supor então, que de forma igualmente ambiciosa, a viagem entre São João da Madeira e Espinho passaria dos atuais 47 minutos para apenas 40 minutos. A juntar um tempo mínimo de transbordo de 5 minutos em Espinho, poderíamos alcançar o Metro do Porto em 1 hora e 5 minutos, Porto-Campanhã em 1 hora e 20 minutos e, por fim, Porto-São Bento em 1 hora e 30 minutos.
Resumindo, seja qual for a solução escolhida, seguindo pelo atual trajeto ferroviário será impossível chegar ao Porto em apenas 40 minutos. Quanto muito, chegar-se-á ao Metro do Porto em 50 minutos. Como pudemos constatar, a diferença nos tempos de viagem entre uma e outra solução é de apenas 15 minutos, sendo que a solução da bitola ibérica é aquela que se apresenta como a mais rápida e num comboio direto. No entanto, convém uma vez mais ressalvar que esta solução não tem garantias de exequibilidade técnica e financeira. Por outro lado, a solução que defendemos, embora assumamos que seja um pouco mais lenta e com um simples transbordo pelo meio, é exequível quer do ponto de vista técnico, pois aproveita quase a totalidade do atual canal ferroviário, quer do ponto de vista financeiro, pois custa quase três vezes menos e tem já financiamento aprovado! A acrescentar ao custo substancialmente inferior, manter a bitola atual tem a vantagem de não implicar o fecho da linha para a realização das obras, estando a requalificação prevista para toda a extensão da mesma. Uma modernização com alteração da bitola, além de ficar limitada apenas a um terço da extensão da linha, implica o seu fecho para obras, pelo que tem o risco associado de não mais reabrir caso os trabalhos acabem por não avançar, tal como foi o caso do Ramal da Lousã. Portanto, e por tudo isto que acabamos de referir, convém ter muitas cautelas quanto àquilo que é dito, quanto às ilusões que se alimenta e quanto às expectativas que se cria, pois, no fim, estas correm o sério risco de acabarem defraudadas. Estamos convictos de que se não tivermos humildade na procura da melhor solução, citanto um célebre especialista na matéria, "ao invés de estarmos a discutir comboios, corremos o risco de terminar a discutir a cor do autocarro". Posto isto, lamentamos que a discussão se tenha focado em demasia na bitola e num comboio direto ao Porto, quando o foco deveria ter estado nos verdadeiros fatores diferenciadores, tais como a conexão com a nova linha de alta velocidade, com a criação de uma gare intermodal, e com o aumento da frequência. Aumento esse que só será possível mantento a linha na bitola atual, visto que assim não ficará dependente da disponibilidade de canal horário na Linha do Norte. É imprescindível a rápida reposição da interface com essa linha no centro de Espinho e a aquisição de mais comboios, para que numa primeira fase se possam implementar horários cadenciados com frequências de 30 em 30 minutos, que poderão passar para frequências de 20 em 20 minutos numa segunda fase, após correções de traçado e eletrificação. Este tipo de frequências será impossível com alteração de bitola, que muito provavelmente e na melhor das hipóteses, ficaria limitada a comboios de hora em hora. A articulação da Linha do Vouga com a nova linha de alta velocidade poderia, sim, colocar os cidadãos de Oliveira de Azeméis, São João da Madeira, Santa Maria da Feira e até mesmo de Espinho de forma mais rápida nos principais centros metropolitanos e, como tal, é isso que esperamos que o PFN passe a contemplar.
Caso ainda não o tenha feito, convidamo-lo a visualizar o nosso manifesto que apresentamos como sugestão ao PFN:
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