terça-feira, 6 de junho de 2023

O que (não) se passa na Linha do Vouga?!

Parte 1 - Material circulante


O MCLV está preocupado com o futuro da Linha do Vouga e tem vindo a constatar que longe vão os tempos em que a cultura ferroviária em Portugal parecia estar a mudar de paradigma. Em consequência disso, a Linha do Vouga parecia bem encaminhada para um futuro promissor. Talvez catapultado pelo sucesso das campanhas do Comboio Histórico, que tiveram o seu início em 2017, a aposta e o investimento no turismo ferroviário pareciam tomar o rumo de transformar esta linha num autêntico museu vivo. Talvez inspirados por exemplos de sucesso estrangeiros, as entidades políticas e os gestores da CP - Comboios de Portugal rapidamente perceberam que o turismo ferroviário e o serviço diário de passageiros podiam conjugar-se na perfeição, ficando assim definido no PNI2030 que a Linha do Vouga seria modernizada em toda a sua extensão sem alteração de bitola. Ora, sendo escasso o parque de material circulante de via estreita existente, não só nesta linha mas em todo o país, a CP rapidamente elaborou um plano para colocar em circulação praticamente tudo aquilo que ainda restasse e fosse possível de recuperar. Para o turismo, foi em 2016 que a CP começou por resgatar e recuperar o ex-Comboio Histórico da Linha do Corgo, que se encontrava "abandonado" na estação da Régua, compreendido pela locomotiva diesel Alsthom 9004, pela locomotiva a vapor Henschel & Sohn E214 e por três carruagens de madeira. Mais tarde, foi recuperada outra carruagem de madeira e uma carruagem-furgão napolitana, que se encontrava nas oficinas de Sernada do Vouga. 


Resgate do ex-Comboio Histórico do Corgo, na estação da Régua, em 2016. Foto de Manuel Moreira.

A CP decidiu não se ficar por aqui e no ano de 2020 iniciou o resgate das quatro carruagens napolitanas que se encontravam abandonadas na estação do Tua. Destas quatro, duas delas já se encontram operacionais na Linha do Vouga desde 2021, enquanto as outras duas continuam pelas oficinas de Contumil (uma praticamente recuperada e outra por recuperar). 


Resgate da última carruagem Napolitana, na estação do Tua, em 2021. Foto retirada do FB de José Carlos Barbosa.

Além deste material, a CP transferiu para Guifões as automotoras Allan 9305 e 9310 com vista à sua recuperação, sendo que apenas esta última deu sinais de estar operacional. Certo é que chegamos a 2023 e, entre a chegada à Linha do Vouga das primeiras carruagens napolitanas e o resgate das automotoras Allan, já se passaram dois anos! Quer estas automotoras, quer as outras duas carruagens napolitanas, parecem ter caído num esquecimento tal que não nos permite sequer prever quando possam regressar aos carris.

 

Resgate das automotoras Allan, já na estação de Aveiro, em 2021. Foto de Manuel Moreira.

Por fim, há cerca de um ano, a CP resgatou as automotoras Nohab 9002 e 9003 que se encontravam "abandonadas" na estação da Livração e que depois de voltarem a estar operacionais, é esperado que sejam de igual modo transferidas para a Linha do Vouga, embora, até ao momento, também pouco ou nada se saiba quanto à evolução dos trabalhos. 


Resgate das automotoras Nohab, na estação da Livração, em 2022. Foto de CP - Comboios de Portugal.

Por fim, há que relembrar que foi há mais de dois anos que a CP resgatou a locomotiva VV 313 que se encontrava em pedestal em frente do Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga, para recuperação estética, cujos trabalhos parecem finalizados, mas a composição também continua retida nas oficinas portuenses. Para o serviço regular de passageiros, a CP procedeu já a uma ampla revisão à maioria das automotoras UDD 9630, para que possam continuar a servir nesta linha por mais alguns anos. Concluindo, as questões que se impõem são as seguintes: Porque é que a CP abrandou o ritmo das recuperações de material para a Linha do Vouga? Porque é que algum do material que se encontra já recuperado continua retido em Contumil e Guifões? Sendo já possível, porque é que a CP não aluga ao estrangeiro mais material circulante para reforçar a frota do serviço regular? Por todos estes motivos, o que (não) se passa na Linha do Vouga?!


Amanhã partilhamos a segunda parte desta publicação.

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