quarta-feira, 7 de junho de 2023

O que (não) se passa na Linha do Vouga?! (pt. 2)

Parte 2 - Infraestruturas

A discussão pública do Plano Ferroviário Nacional terminou no final de Fevereiro e desde então que o interesse pelos assuntos no que à Linha do Vouga diz respeito tem perdido bastante fulgor. Aliás, prova disso é o facto de nos últimos meses, as poucas notícias divulgadas na imprensa sobre a linha foram sobre aspetos pouco positivos, nomeadamente o suposto corte "indiscriminado" de sobreiros e um acidente numa passagem de nível entre uma automotora da série 9630 e um veículo pesado. De resto, parece pairar no ar o sentimento de que já pouca gente se lembra de que urge uma rápida modernização desta via férrea. Entre 2015 e os dias de hoje, dos cerca de 98 quilómetros que continuam em funcionamento, apenas 28 foram renovados e os 29 que perfazem o troço central continuam sem serviço de passageiros, desde 2013, devido à degradação da infraestrutura.


Evidência do estado de degradação do troço central entre Oliveira de Azeméis e Sernada do Vouga, em Albergaria-a-Velha, junto à sua zona industrial, no ano de 2021. Foto de António Carlos Nobre.


Convém relembrar que, primeiramente, foram renovados os 15 quilómetros entre Águeda e Sernada do Vouga e mais tarde, já em 2022, os 13 quilómetros que separam Oliveira de Azeméis e Santa Maria da Feira. A renovação do troço Águeda-Sernada do Vouga implicou o corte da ligação do Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga à rede ferroviária, um erro que até hoje nunca fora reparado. Além disso e apesar de anunciado em 2020, consta que, passados três anos, ainda se anda à procura de meios de financiamento para a concretização do projeto de renovação e ampliação deste espaço museológico.

Trabalhos de renovação do troço Sernada do Vouga - Águeda, que ditaram o corte da ligação do Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga à rede ferroviária, em 2015. Foto de Bruno Soares.


De salientar, também, que o sucesso da exploração do Comboio Histórico, levou a CP - Comboios de Portugal a repor a ligação à "redonda" de Sernada do Vouga, mas apesar do investimento feito em 2022, a mesma parece continuar inoperacional.


Em 2022, foi reposta a ligação à redonda no parque oficinal de Sernada do Vouga. Foto retirada do FB de José Carlos Barbosa.


Ao longo destes últimos anos, outro aspeto que nos pareceu bastante positivo foi o esforço das mais diversas entidades na recuperação de vários edifícios de estação, alguns deles bastante degradados e abandonados. Tal facto é sempre de louvar, mas lamentavelmente quase nenhuma destas recuperações está a ser efetuada com o intuito de servir os passageiros desta linha...


O edifício da estação de Couto de Cucujães foi recuperado ao longo do ano de 2022, para ser transformado num albergue para peregrinos. Foto de Bruno Soares.


No entanto, os problemas que aqui acabamos de descrever nem são os piores. O grande problema é mesmo o atraso em todas as outras obras de renovação que já deviam estar a decorrer, ou até mesmo a terminar, nomeadamente a renovação do troço central, compreendido entre Oliveira de Azeméis e Sernada do Vouga (inicialmente previsto para o 3º trimestre de 2022); a finalização da renovação do troço norte entre Santa Maria da Feira e Espinho (inicialmente previsto para o 4º trimestre de 2022) e, por fim, a finalização da renovação do troço sul entre Águeda e Aveiro (inicialmente previsto para o 1º trimestre de 2023). A acrescentar a estas renovações de via, há que considerar os trabalhos para a automatização de 34 PN's nos troços norte e sul, cujo arranque estava previsto para o início de 2023 e ainda das PN's do troço central, a concretizar em 2024.


Trabalhos de renovação do troço compreendido entre Oliveira de Azeméis e Santa Maria da Feira, junto ao apeadeiro de Santiago de Riba-Ul, em 2022. Foto de Bruno Soares.


Podemos concluir assim que, no que às infraestruturas da Linha do Vouga diz respeito, a palavra de ordem neste momento é apenas uma: "ATRASO"! Infelizmente não são apenas os atrasos provocados por sucessivas greves e avarias que prejudicam a competitividade deste meio de transporte. Os atrasos na recuperação da infraestrutura estão a hipotecar o interesse na utilização desta linha. O verdadeiro e único prejudicado tem nome e chama-se "passageiro"! Apesar da Infraestruturas de Portugal ter informado o MCLV de que os trabalhos de renovação do troço central teriam início no 2º trimestre de 2023, estamos já pouco crentes que consiga cumprir com tal previsão, pois estamos já no mês de Junho e, daquilo que sabemos, ainda não há máquinas no terreno. Posto isto, as questões que se colocam são as seguintes: Porque é que tarda a reposição da ligação do Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga à rede ferroviária? Porque que é que a redonda de Sernada do Vouga continua inoperacional apesar de reposta a sua ligação à rede? Porque é que quase nenhuma das recuperações de edifícios de estação acautela um espaço destinado a servir os passageiros? Qual ou quais os motivos tem a IP a apresentar para justificar os atrasos nas diversas renovações de via da Linha do Vouga? Quando começam, afinal, os trabalhos de renovação do troço central? Por estes e outros motivos, o que (não) se passa na Linha do Vouga?!

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