Comboio Histórico do Vouga em Sernada do Vouga. Foto: Leandro Ferreira |
Ao longo dos últimos sete anos, o Comboio Histórico do Vouga transformou-se num verdadeiro ícone do turismo ferroviário nacional, alcançado mesmo reconhecimento internacional. Com temporadas (quase) regulares no Verão e em algumas épocas festivas, tais como o Natal, o Carnaval e a Páscoa, a senda do sucesso deste produto turístico apenas foi interrompida no auge da pandemia provocada pelo Covid-19.
Aquando da sua estreita, em 2017, o Comboio Histórico era composto apenas pela locomotiva diesel Alsthom CP9004 e três carruagens dos primeiros anos do século XX. Nos anos seguintes, e à medida que iam sendo recuperadas nas oficinas da CP, foram adicionadas outras carruagens, das quais destacamos as napolitanas dos anos 30, que se encontravam abandonadas na estação do Tua. Nos finais de 2019, a recuperação da locomotiva a vapor Henschel & Sohn CP E214 foi a cereja no topo do bolo para um projeto que ia recebendo cada vez mais adesão por parte do público.
Alavancada pelo sucesso da exploração turística da Linha do Vouga, a CP iniciou um processo de resgate e recuperação de material circulante com elevado valor histórico, algum dele abandonado em barracões das antigas vias estreitas do norte do país, tais como as automotoras Nohab que se encontravam na Livração. As duas automotoras Allan que se encontravam em Sernada do Vouga também seguiram para restauro, assim como a locomotiva diesel Alsthom CP 9005. Algum deste material já se encontra totalmente recuperado em Contumil, no entanto nunca chegou a ser transferido para a Linha do Vouga. A justificação, segundo fonte da CP, é a falta de capacidade das cocheiras de Sernada do Vouga para resguardar mais material histórico, visto já se encontrarem lotadas. A solução poderá passar pela futura ampliação do Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga, mas provavelmente levará anos até que esse projeto esteja concluído.
No ano passado, a CP chegou a anunciar a intenção em ter um calendário definido para as viagens turísticas na Linha do Vouga, no entanto, tais ambições parecem agora começar a desmoronarem-se como um baralho de cartas... Nos últimos meses de 2023, foi detectada uma grave avaria na caldeira da locomotiva a vapor CP E214, tornando-a inoperacional, e sabe o MCLV que só com grande resiliência por parte do pessoal da manutenção da CP é que foi possível a realização da última temporada de Natal do Comboio Histórico, desta vez com recurso à locomotiva a diesel.
Se no presente ano, a não realização da temporada de Carnaval já foi motivo de preocupação, a não realização da temporada de Páscoa faz soar todos os alarmes. Tal facto levou o MCLV a procurar explicações junto de uma fonte da CP, a qual acabou por nos confirmar que não irá haver temporada de Páscoa, argumentando falta de condições. O MCLV sabe também que a CP está a ter problemas em reunir as condições necessárias para avançar com a reparação da caldeira da locomotiva a vapor. Os custos dessa reparação são extremamente avultados, e segundo consta, está a ser difícil encontrar uma resposta junto da indústria nacional. A solução poderá mesmo passar pela aquisição de uma nova caldeira no estrangeiro, no entanto esse processo será moroso. Em alternativa, a CP poderá optar pela recuperação de uma outra locomotiva, tendo em vista a sua readaptação para a queima de gasóleo, à semelhança do que já acontece com a locomotiva CP 0186 e que é utilizada no Comboio Histórico do Douro.
Infelizmente, tendo em conta todos estes dados, estamos convictos de que se nada for feito em contrário, o projeto "Comboio Histórico do Vouga" corre sérios riscos de ter os dias contados. Reconhecemos o empenho, a bravura e até a paixão que o Município de Águeda e a equipa de Manutenção/Comboios Históricos da CP têm demonstrado ao longo dos tempos para manter este projeto sobre carris, mas neste momento está claro que isso já não é suficiente. Há que trazer mais entidades para este projeto, sejam elas empresariais ou da sociedade civil, envolvendo todas as autarquias servidas pela linha. A verdade é que será bastante embaraçoso para a região de Aveiro não apresentar um dos seus maiores produtos turísticos num ano em que a sua capital de distrito é também a capital portuguesa da Cultura. Por tudo isto e muito mais, aqui deixamos o nosso apelo aos municípios de Espinho, Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Albergaria-a-Velha, Águeda e Aveiro: Salvem o Comboio Histórico do Vouga!
MCLV, 22 de março de 2024
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