É caso para dizer: Oliveira de Azeméis já tem um metro e não sabe! Ou não quer saber. Ou então talvez seja apenas o seu presidente de câmara que parece não querer saber, já que quando estiver modernizada, a Linha do Vouga será uma infraestrutura onde será possível prestar um serviço que se assemelhe ao de um metro de superfície.
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O melhor exemplo disso mesmo é o "Euskotren", a rede urbana de bitola métrica que serve as áreas metropolitanas de Bilbau e San Sebastian, em Espanha. Relembramos que as autarquias da zona sul da Área Metropolitana do Porto (AMP) assinaram uma moção a exigir à tutela para que a modernização da Linha do Vouga permita uma ligação o mais rápido possível ao Porto, independentemente da bitola escolhida.
Um dos maiores especialistas em ferrovia do nosso país, o ex-presidente da CP, Eng. Nuno Freitas, identificou a solução para a ligação que se exige, a qual consiste na criação de uma interface entre a Linha do Vouga e a futura Linha de Alta Velocidade, no local em que estas se cruzam, no concelho de Santa Maria da Feira. Aliás, como já aqui demos conta, o ex-presidente do executivo feirense e atual secretário de estado do Ambiente, Emídio Sousa, no ano transacto chegou a defender precisamente essa solução, embora no decorrer da campanha para as legislativas tenha mudado de posição, ao apelar à construção de uma estação da LAV no seu concelho, mas num local onde a Linha do Vouga nem sequer passa...
Enfim. Onde será que já vimos este filme? Primeiro foram as "cambalhotas" de Emídio Sousa, agora são as ilusões de Joaquim Jorge. Não é que não sejam legítimas, mas haja algum realismo. A verdade é que enquanto alguns autarcas vão "brincando" aos comboios, desviando o foco para soluções de difícil concretização, outros não perdem tempo em avançar, como é o caso do edil aguedense Jorge Almeida, que inclusive já formalizou a assinatura de um contrato que prevê a eletrificação do troço sul da Linha do Vouga, no valor de 40 milhões de euros.
A Linha do Vouga é a infraestrutura que deveria estar no topo das prioridades de mobilidade dos concelhos da parte sul da AMP, no entanto as afirmações do autarca oliveirense vêm secundarizá-la e acabam, mesmo que de forma desintencionada, por desviar o foco na sua modernização.
Depois de em 2022 Joaquim Jorge ter assumido publicamente a sua preferência pela reconversão da linha para bitola ibérica, não deixa de ser curioso que sejam agora reveladas as intenções quanto ao Metro do Porto, precisamente numa altura em que decorrem as obras de renovação de via no troço central da Linha do Vouga, o qual atravessa dois terços da extensão do concelho de Oliveira de Azeméis, e que permitirá reconectar os troços principais (Espinho-Oliveira de Azeméis e Sernada do Vouga-Aveiro). Curioso também que ainda há bem pouco tempo saiam notícias que davam conta que a autarquia oliveirense tinha a intenção de criar um "ponto de ancoragem" junto à estação da sua cidade, antecipando a requalificação da linha, com o objetivo de a ligar a outros modos de mobilidade.
Hipoteticamente, se a ideia de estender o Metro do Porto a Oliveira de Azeméis avançasse, isso significaria o fim da Linha do Vouga, pelo menos até essa localidade. Consideramos, por isso, lamentável que se esteja uma vez mais a desviar o foco da modernização desta via férrea, quando a discussão deveria estar centrada nos pontos que realmente a tornarão atrativa e numa verdadeira solução de mobilidade, nomeadamente: a reposição da interface com a Linha do Norte, em Espinho; a criação de outra com a futura Linha de Alta Velocidade em Santa Maria da Feira; a relocalização de apeadeiros para zonas mais próximas a fábricas e habitações; aumento da frequência e implementação de horários cadenciados; correção de pelo menos 20% do traçado; eletrificação, aquisição de novas composições, etc.
MCLV, 20 de maio de 2024
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