Escrever sobre a Linha do Vouga é sempre importante pois demonstra que o assunto continua a ser relevante para todos os que se interessam pela temática, mas também para as populações servidas por esta via férrea.
Capa do jornal 'O Regional', edição de 30 de maio de 2024 |
O curioso é que o jornal "O Regional" decidiu realizar uma reportagem que apela ao respeito pelo Vouguinha, mas nem sempre se lembrou disso na hora de apresentar os factos. Senão, vejamos:
❌ Jornal "O Regional" (JR): "Os passageiros queixam-se das más condições das carruagens e pedem que o comboio histórico seja tratado com mais respeito. Até porque está a completar 117 anos (...)".
Resposta MCLV: Logo no início do artigo somos confrontados com estas afirmações, que merecem a devida correção. Ora, bem sabemos das condições deficitárias das automotoras UDD 9630, no entanto ainda não têm idade suficiente para prestarem serviço de "comboio histórico". A confusão entre "comboio histórico" e "histórico comboio" parece irrelevante, mas a verdade é que esta simples troca na ordenação das palavras faz toda a diferença para uma correta explanação dos factos. Além disso, este ano a Linha do Vouga não irá completar 117, mas sim 116 anos.
❌ JR: "Este é um comboio de outro tempo, de carruagens velhinhas que circulam numa linha de bitola estreita".
Resposta MCLV: Se este "é um comboio de outro tempo, de carruagens velhinhas", então praticamente toda a frota da CP é de "outro tempo". Com exceção das automotoras da série 3400, que servem nos Urbanos do Porto, e dos Alfas Pendulares, as automotoras UDD 9630 são na verdade material ferroviário relativamente "novo", com pouco mais de 30 anos. No entanto, somos totalmente de acordo em que sejam devidamente modernizadas, para que possam corresponder aos padrões de conforto e segurança atuais. Além disso, a bitola estreita não faz da Linha do Vouga uma via férrea de "outro tempo". De "outro tempo" é o seu traçado, bastante sinuoso, que se manteve inalterado desde a sua inauguração. Daí ser tão importante que se faça a devida correção de traçado aquando da sua modernização, mas sem alteração da bitola, para que ninguém corra o risco de ficar sem a sua empresa e/ou habitação, e já agora, para que a Linha do Vouga possa continuar a passar no centro da cidade de São João da Madeira, por exemplo.
❌ JR: "(...) Cerca de 40 pessoas aguardavam, na estação desativada em São João da Madeira, a chegada do comboio que trazia duas automotoras, ambas grafitadas, com capacidade de 50 lugares cada".
Resposta MCLV: Embora o artigo acabe por fazer mais à frente a devida correção graças ao esclarecimento da parte da CP, não podíamos deixar de fazer este reparo. Certamente, o que nesse dia terá chegado a São João da Madeira foi apenas uma automotora, composta por duas carruagens. Infelizmente, as práticas de vandalismo contra material ferroviário estão a aumentar em todo o país, e o Vouguinha não é exceção, daí a automotora ter chegado nesse estado. E não. Cada automotora não tem apenas a capacidade de 50 lugares. As automotoras da série 9630 dispõem de 109 lugares sentados e 104 em pé, ou seja, um total de 213 lugares (em carga mínima). Outro aspeto que devemos salientar é que a estação de São João da Madeira não se encontra desativada. Se assim fosse, não seria possível apanhar ali qualquer comboio. O que se encontra ali desativado são as bilheteiras, que de resto é algo que infelizmente se encontra desativado em toda a linha, há exceção da estação de Aveiro.
Para concluir, resta-nos dizer apenas que a intenção do artigo foi ótima, mas o respeito pelos factos vale mais do que boas intenções.
Artigo do "O Regional" (30/05/2024): https://oregional.pt/sociedade/este-comboio-tem-de-ser-tratado-com-mais-respeito/
Reportagem em vídeo: https://www.facebook.com/share/v/6n4VUJqHv4pApo6R/
MCLV, 13 de junho de 2024
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